O futebol é mesmo, como diziam os antigos, uma caixinha de surpresas. Num dia que já entrou para a história do futebol, brasileiros e argentinos disputaram as quartas de final da Copa do Mundo do Catar e os torcedores não escondiam a ansiedade por uma possível semifinal entre os dois gigantes sul-americanos, um embate entre Neymar e Messi.
O Brasil, muito favorito frente a Croácia, teve enormes dificuldades, mas conseguiu vencer com um gol genial de Neymar, já na prorrogação. Faltando cinco minutos para o fim da partida, a Croácia ainda teve uma chance de ouro, quando a seleção brasileira se lançou ao ataque de forma inteiramente desorganizada, deixou a retaguarda desprotegida, e Petkovic não empatou a disputa porque o zagueiro brasileiro Marquinhos se jogou à frente da área, desviando a bola e evitando a decisão por pênaltis.
Fez-se justiça, visto se tratar do primeiro chute a gol da seleção europeia em toda a contenda. Brasil em mais uma semifinal e Neymar recebendo as homenagens por ter sido decisivo.
A Argentina, pelo menos do ponto de vista temporal, fez o contrário: começou muito melhor, fez dois a zero, com Messi ditando o ritmo e o rumo do jogo.
A Holanda, porém, com toda a sua tradição, disciplina e força tática conseguiu empatar a partida no último lance, quando, ao cobrar uma falta na entrada da área, surpreendeu e assombrou o mundo futebolístico fazendo uso de jogada ensaiada, tocando a bola, em vez de chutar, para Weghorst (que já havia feito o primeiro gol holandês aos 38 do segundo tempo) desviar sutilmente e garantir a realização de prorrogação. Inacreditável!
Claro que esse mais do que inesperado revés causou um enorme impacto nos jogadores argentinos, que foram burocráticos diante uma cansada Holanda, resultando em permanência do empate e consequente cobrança de pênaltis, sempre matreira.
Foi a hora de o goleiro holandês, Noppert, brilhar, defender duas cobranças e garantir a Holanda na semifinal contra o Brasil.
Eternamente, os torcedores argentinos tentarão entender porque Messi ficou apenas para a última cobrança, que nem checou a ocorrer. Não teria sido melhor pôr o craque portenho para cobrar logo a primeira penalidade, visto o tamanho da responsabilidade?
A cobrança foi feita por Julián Álvarez, que sentiu o peso, e bateu para a consagração de Noppert.
Argentina fora e aquela que, talvez, seria a maior partida da história das Copas não ocorrerá em 2022: Brasil e Argentina em semifinal de um mundial.
Messi saiu de campo aos prantos. Fez tudo que pode, mas a verdade é que faltou ao gênio argentino, mais uma vez, companheiros que lhe ajudassem a carregar o fardo e a dramaticidade de nossos vizinhos, tão apaixonados por futebol. Ficará para a história como o maior de todos que não foi?!
O escrete canarinho - mais uma expressão cunhada pelos antigos (e haja nostalgia!) - aprendeu com os erros do jogo contra a Croácia, usou as virtudes da Argentina (sem cometer os mesmos pecados), e venceu a Holanda na semifinal com absoluta autoridade: 3 x 0. Neymar brilhou ao jogar coletivamente, mantendo os lampejos decisivos. Brasil na final!
A França manteve a regularidade, apesar de todos os desfalques, e também chegou.
Será a revanche de 1998. Será Neymar contra Mbappé. O mundo aguarda em suspense. Tudo indica que será a confirmação de um novo reinado no futebol, o do craque francês, ou será a consagração, finalmente, de Neymar como melhor do mundo.
O futebol é mesmo uma caixinha de surpresas. Imaginem se a Holanda não empata com a Argentina no último lance. Imaginem se a bola de Petkovic, da Croácia, resvala em Marquinhos e vai para o fundo das redes de Alisson. Não estaríamos agora discorrendo acerca dos erros de Tite, sobre os vacilos de Neymar, tecendo loas eternas a Messi e aguardando que ele, enfim, ganhasse a sua primeira Copa do Mundo, se igualando (ou mesmo ultrapassando) Maradona?! Seria Messi contra o esquadrão francês, comandado por Mbappé.
Alguém já disse que o diabo mora nos detalhes. Eis a beleza que faz do futebol o esporte mais popular do mundo!