Quinta, 05 de Dezembro de 2024
17°C 26°C
São Paulo, SP
Publicidade

Ainda Estou Aqui, entre memórias e explicações

O filme é tecnicamente impecável, com atuações sólidas – Fernanda Torres e Selton Mello estão excelentes – e uma trilha que embala o peso emocional. Porém, há algo que resiste a alcançar a grandiosidade do material original: o excesso de explicações.

Por: Carlos Leen
29/11/2024 às 16h16
Ainda Estou Aqui, entre memórias e explicações
Em Ainda Estou Aqui, sua adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva, ele mergulha em uma tragédia familiar que ecoa os horrores da ditadura militar brasileira.

Walter Salles é um diretor que sabe tocar em histórias pessoais com sensibilidade.

Em Ainda Estou Aqui, sua adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva, ele mergulha em uma tragédia familiar que ecoa os horrores da ditadura militar brasileira.

O filme é tecnicamente impecável, com atuações sólidas – Fernanda Torres e Selton Mello estão excelentes – e uma trilha que embala o peso emocional. Porém, há algo que resiste a alcançar a grandiosidade do material original: o excesso de explicações.

A obra de Marcelo Rubens Paiva é um relato íntimo, um tributo à força de sua mãe, Eunice, e à ausência do pai, Rubens Paiva, vítima do regime militar. No livro, o leitor acompanha a dor e a resiliência da família com uma proximidade que a tela não conseguiu traduzir plenamente. Salles optou por focar no contexto político e, com isso, o filme se prende a diálogos que tentam situar o público sobre o que foi o AI-5 e o aparato repressor da época.

Essa escolha, embora compreensível – afinal, vivemos tempos de memória curta e negacionismo histórico –, acaba tirando a fluidez da narrativa.

Não é que o contexto não deva ser contado, mas quando a exposição engessa a trama, o drama se dilui.

Assistindo a essas cenas, lembrei-me de Um Dia Muito Especial, de Ettore Scola, que não precisa explicar o fascismo para nos fazer sentir seu peso. Ou de Missing, de Costa-Gavras, que nos conduz pela brutalidade da ditadura chilena sem perder de vista o coração da história: uma busca desesperada e humana.

Em Ainda Estou Aqui, a primeira metade, focada na prisão de Rubens, é intensa. Já a segunda, centrada na luta de Eunice, carece de profundidade. O roteiro salta momentos que mereciam mais fôlego, como a decisão dela de estudar Direito e a batalha nos bastidores da Justiça.

Ainda assim, é louvável que um filme assim atraia multidões. Em tempos de produções dominadas por heróis de capa e espada, uma história real e dura ganhar espaço nas telas é um feito por si só.

Talvez seja esse o maior mérito de Ainda Estou Aqui: lembrar que a História é feita de pessoas, de perdas e de lutas silenciosas.

Saí do cinema com uma sensação agridoce.

O filme não é tão potente quanto poderia, mas é um sopro necessário num momento em que lembrar é resistir. E, como Eunice, continuamos aqui.

 

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Senna foi lançada no dia 29 de novembro pela Netflix - Foto: Divulgação/Netflix
Critica Há 15 horas

Senna na Netflix: Imortalizado com roteiro explicadinho

Leia minha crítica sobre a minissérie Senna.

Pacino dedica boa parte do livro a O Poderoso Chefão (1972), seu primeiro grande papel. Interpretar Michael Corleone não só projetou sua carreira, como também o colocou entre os gigantes de Hollywood.
Cinema Há 1 semana

Al Pacino e os papéis que moldaram uma lenda do cinema

Poucos atores conseguiram imprimir sua marca no cinema como Al Pacino. Em sua autobiografia, Sonny Boy, publicada no Brasil, ele compartilha memórias de uma infância difícil no sul do Bronx, entre ausências paternas e a luta de sua mãe contra a depressão. É um relato sincero, que revela não só o homem por trás das câmeras, mas também o artista que construiu uma carreira brilhante em meio a tantas adversidades.

A artista Lília Diniz, idealizadora da atividade. Foto: Divulgação
Cultura Há 2 semanas

Projeto de Música Regional é realizado em escolas de Imperatriz para jovens e adultos

A atriz e poeta Lília Diniz fará duas apresentações do Circuito Pindoba em escolas

ste momento especial será uma oportunidade de valorizar a riqueza cultural afro-brasileira, destacar a importância das *Leis 10.639/2003 e 11.639/2008. Imagem: Divulgação
Consciência Negra Há 2 semanas

Imperatriz realiza XII Exposição Afro-Brasileira no Calçadão

Nesta terça, 19 de novembro de 2024, das 8h às 18h, o Calçadão de Imperatriz será palco da XII Exposição Afro-Brasileira, evento promovido pela Unidade Regional de Educação de Imperatriz (UREI), através da Coordenação de Educação da Igualdade Racial (CEIRI).

Muralismo no Centro Cultural Tatajuba – Artista: Eder Mais / Foto: Ana Clara
Cultura Há 3 semanas

Projeto Arte em Cores abre inscrições para seleção de artistas em Imperatriz

Estão abertas as inscrições para o projeto Arte em Cores Imperatriz, iniciativa de valorização da arte urbana que busca promover trocas culturais entre artistas de diversas regiões do Brasil. Com patrocínio do Grupo Mateus e apoio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Maranhão, o projeto será realizado pelo Instituto Tatajuba em parceria com a Prefeitura e a Fundação Cultural de Imperatriz.