O ano começou com uma bomba no mundo da comunicação digital: a Meta, dona de Facebook, Instagram e WhatsApp, decidiu enterrar seu programa de checagem de fatos, um marco de sua política contra desinformação.
Mark Zuckerberg afirmou que os "fact-checkers" causaram mais dano do que benefício e, com isso, decretou o fim de uma era de moderação de conteúdo guiada por especialistas.
“É hora de voltar às nossas raízes em torno da liberdade de expressão”, disse ele, jogando para os usuários a responsabilidade de corrigir ou apontar erros em postagens – algo que lembra o modelo das “Notas da Comunidade” do X, o antigo Twitter. Soa quase como um apelo nostálgico aos primórdios da internet, quando as redes sociais eram vistas como praças públicas virtuais livres de amarras, mas será que esse retrocesso é mesmo libertador?
Não se engane. Isso não é sobre liberdade de expressão. É sobre poder.
As big techs sempre resistiram a qualquer tentativa de regulamentação que as tornasse responsáveis pelo conteúdo que circula em suas plataformas. Assumir essa responsabilidade é entrar em um terreno perigoso – não apenas financeiramente, mas politicamente.
Afinal, que governo quer se indispor com os gigantes da tecnologia?
No Brasil, por exemplo, já vimos o Supremo Tribunal Federal (STF) e outras instituições pressionando essas empresas a retirar conteúdos falsos e nocivos. E não é de hoje que essas gigantes veem no discurso da "liberdade de expressão" um escudo para evitar regulamentações que, de fato, as responsabilizem. Zuckerberg, em seu vídeo, atacou o que chamou de “tribunais secretos” na América Latina que ordenam remoções de conteúdo. O recado foi claro: a Meta não quer ter que prestar contas às instituições desses países.
Mas será mesmo que a solução é abrir mão de qualquer regulação?
Sem moderação responsável, as redes sociais se tornam terrenos férteis para fake news, teorias conspiratórias e manipulações políticas. Os checadores de fatos não eram perfeitos, mas pelo menos representavam uma tentativa de mediação. Agora, com esse "liberou geral", parece que as plataformas preferem lavar as mãos e assistir à confusão de longe para se beneficiar dela.
O que temos é um cenário preocupante: corporações gigantescas que moldam o debate público global, mas que não querem carregar o peso de suas consequências.
E nós, jornalistas, acadêmicos, cidadãos, ficamos nos perguntando: quem será o responsável quando o próximo escândalo de desinformação explodir?
A verdade é que, enquanto a responsabilidade for terceirizada – seja para os usuários, seja para governos impotentes – ninguém vai segurar o monstro.
No fim das contas, a Meta, o X, o Google e companhia limitada podem até defender a liberdade de expressão, mas o que elas realmente querem é liberdade de responsabilidade.
E isso, meus amigos, é um desserviço para o Jornalismo sério, para a Democracia e para a sociedade como um todo.