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Washington Oliveira: “A democracia é sagrada — e precisa ser defendida todos os dias”

Ex-vice-governador do Maranhão, Washington Oliveira fala sobre o momento político nacional, os desafios do PT e a cultura como trincheira contra o fascismo

Por: Carlos Leen
08/04/2025 às 11h22 Atualizada em 08/04/2025 às 12h51
Washington Oliveira: “A democracia é sagrada — e precisa ser defendida todos os dias”
Washington Oliveira na Academia Imperatrizense de Letras. Foto: Carlos Leen

Historiador, ex-deputado federal, ex-vice-governador e conselheiro aposentado do TCE-MA, Washington Luiz de Oliveira  é, hoje, secretário estadual de Representação Institucional do Maranhão no Distrito Federal.

Com uma longa trajetória política ligada a esquerda – foi militante do PCdoB e é filiado ao PT desde 1988 – Washington mantém um olhar atento sobre os rumos da democracia, os embates culturais e a conjuntura política no Brasil e no mundo.

No último fim de semana, esteve em Imperatriz, na região Tocantina do Maranhão, onde se reuniu com artistas e produtores culturais para discutir o projeto FABER — festival que marcou época na cena musical da cidade e que pode retornar em breve.

Em entrevista ao jornalista Carlos Leen, ele comenta o papel da cultura no enfrentamento a extrema direita, a crise de comunicação do governo Lula e os rumos do Partido dos Trabalhadores no Maranhão.


Como é que está a relação da secretaria com os municípios?
Muito boa. Nós temos hoje, em Brasília, uma secretaria do Governo do Estado do Maranhão a disposição de todos os prefeitos e municípios do nosso estado. A orientação do governador Brandão é clara: atenção integral aos 217 municípios. Passei por Imperatriz de forma rápida e tive o grande prazer e alegria de estar na Academia Imperatrizense de Letras, com um grupo de artistas e pessoas que fazem cultura na região Tocantina, discutindo projetos relevantes. Me disponho a colaborar e estar junto nessa luta. Eu também sou alguém que se interessa por essa área — a cultura é a manifestação da sociedade, do povo, das nossas origens. Me coloco a disposição tanto no nível estadual quanto federal para trabalhar por aquilo que é anseio da classe artística maranhense, seja em São Luís, Imperatriz ou qualquer outra região do nosso imenso estado.

O Partido dos Trabalhadores vive um momento de reflexão interna. A sua vinda a região tem alguma relação com esse debate? Como está o PED neste momento?
O PT está fazendo um debate interno importante, olhando para dentro de si neste momento de mudanças profundas que o mundo e o Brasil vivem. Estamos diante de um forte ascenso do fascismo em escala global, e o Brasil não é exceção. Temos governos autoritários nas Américas — basta olhar para os Estados Unidos e a Argentina — e o mesmo se repete na Europa. As redes sociais trouxeram um ranço autoritário muito profundo. O PT está refletindo sobre isso, buscando entender como se posicionar neste novo cenário. Estamos em defesa da democracia — que é uma questão sagrada para a sociedade. Liberdade, direito a vida, direito à divergência... tudo isso deve ser defendido com civilidade. Esse é o centro da discussão interna do partido hoje.

O governo federal possui uma inserção relevante na área cultural. Como o senhor avalia o papel da cultura na luta política atual?
Enfrentar o negacionismo e o conservadorismo extremo é uma tarefa dos governos progressistas — e isso vale para todas as áreas. Vivemos num país profundamente desigual: desigual na distribuição de renda, com uma elite muito rica e uma maioria muito pobre, e desigual também regionalmente. O Sul é desenvolvido, mas o Norte e o Nordeste ainda enfrentam muitas carências. O governo Lula tem buscado combater essas desigualdades. Ele é um governo desenvolvimentista, que busca distribuir renda e investir nas pessoas. Mas é preciso comunicar isso melhor. O Brasil saiu de um período extremamente nefasto — o governo anterior destruiu instituições, dividiu famílias, gerou instabilidade. Agora é hora de reconstruir. O governo Lula tem feito muito, mas precisa explicar melhor isso para a população.

O senhor mencionou uma “retraída” na popularidade do governo Lula. A que o senhor atribui esse fenômeno?
Vejo isso como uma consequência de duas coisas. Primeiro, uma dificuldade de adaptação a nova lógica de comunicação. O governo tem feito muito, mas enfrenta uma onda pesada de desinformação, fake news e manipulação das redes sociais. Essa máquina de desinformação prejudica demais. Por outro lado, é necessário que o próprio governo se adeque aos novos modelos de comunicação. Não basta fazer — é preciso mostrar o que foi feito, traduzir isso para as pessoas em linguagem acessível, direta, convincente. Essa é uma tarefa urgente para quem quer governar em tempos digitais.

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