Na tarde desta quarta-feira (26), a Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) aceitou a denúncia da PGR contra Jair Bolsonaro e sete aliados, acusados de integrarem o núcleo duro da tentativa golpe em 2022.
Aceitou também, simbolicamente, a responsabilidade de escrever um capítulo turbulento da política brasileira.
A decisão unânime, que transforma o ex-presidente em réu, ecoa um terremoto que desafia um bolsonarismo que oscila entre a resistência e a implosão.
O Peso dos Dias
Os últimos dias foram uma sucessão de derrotas para o campo bolsonarista. A condenação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), foi consolidada por maioria no STF.
Já o protesto no Rio de Janeiro, que reuniu menos adeptos do que o esperado para pedir “anistia a golpistas”, mostrou que a base militante, antes inflamada, hoje parece dividida entre a exaustão e a descrença.
Enquanto isso, Bolsonaro, inelegível até 2030, assiste ao próprio mito se transformar em um dilema: como ser ao mesmo tempo mártir e fardo?
O Paradoxo do Rei sem Coroa
Há uma ironia cruel na teia que envolve a direita brasileira.
Bolsonaro, hoje, é visto por aliados como um “âncora” eleitoral — figura tóxica para o eleitorado moderado, mas ainda detentor de um poder de veto sobre qualquer nome que ouse sonhar com o Planalto.
“Sem o aval dele, não se vence uma prévia sequer”, admite um deputado do PL.
O ex-presidente, porém, está enredado em processos que podem levá-lo à prisão, com provas robustas sobre sua participação em atos golpistas.
Se condenado, sua imagem oscilará entre a de “herói perseguido” e a de “lastro do passado”.
Eduardo Bolsonaro, autoexilado nos EUA, tornou-se um enigma. Oficialmente, ele nega fugir da lei, mas seu sumiço do Brasil alimenta teorias.
Há quem veja em sua estadia nos Estados Unidos uma tentativa de criar uma “frente internacional” contra o governo Lula, buscando apoio de grupos extremimistas globais para deslegitimar as instituições nacionais.
Paralelamente, as postagens agressivas e desastradas nas redes sociais de Jair Bolsonaro — “tão ruins que parecem escritas por ele mesmo”, brinca um analista — são ao mesmo tempo combustível para a base radical e material para processos futuros.
A Aposta na Martirização
Nos bastidores, setores do bolsonarismo começam a calcular friamente.
Para alguns, uma eventual prisão de Bolsonaro não seria uma tragédia, mas uma oportunidade. “Ele seria o Lula de 2018”, especula um estrategista.
O risco, porém, é que o bolsonarismo, sem seu líder livre para comandar palanques, se fragmente em caciques regionais — ou se reduza a um movimento saudosista, sem projeto além da nostalgia.
A Corrida contra o Relógio
Enquanto o processo avança, aliados se dividem: parte defende antecipar a escolha de um nome para 2026, apostando em figuras como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) ou até mesmo em Michelle Bolsonaro.
Outros insistem em esperar, temendo que qualquer movimento precoce seja lido como traição.
Com ou sem Bolsonaro o campo conservador se assemelha a um quebra-cabeça sem peça mestra — e o tempo, para eles, não é um aliado.
Por ora, o que resta é um país assistindo a um ex-presidente lutar contra as grades que ele mesmo ajudou a forjar — e uma direita que, refém de seu próprio mito, ainda não sabe se quer libertá-lo... ou se libertar dele.