No Brasil, sempre que o governo anuncia qualquer medida que mexa nas engrenagens fiscais, o mercado financeiro espirra — e espirra forte. Foi o que aconteceu ontem, logo após o ministro Fernando Haddad, ladeado por Rui Costa e Simone Tebet, explicar no Palácio do Planalto o tão esperado pacote de cortes de gastos.
Antes mesmo da coletiva terminar, os números já estavam cambaleando nas telas, refletindo o nervosismo dos operadores.
O motivo? Uma palavrinha que deixa certos grupos inquietos: justiça tributária.
O governo propôs ampliar a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Boa notícia para milhões de brasileiros que há tempos sentem o peso desproporcional da carga tributária. Só que, claro, a conta precisa fechar. E a ideia de cobrar mais de quem ganha acima de R$ 50 mil mensais — a famosa taxação dos "super-ricos" — não caiu bem entre aqueles que já vivem nas alturas financeiras.
O dito "mercado financeiro reagiu mal". E sabe de uma coisa? Isso é ótimo. Afinal, quando o mercado resmunga, é sinal de que a corda não arrebentou do lado mais fraco desta vez. Parece contraditório, mas não é. O plano do governo não é um ataque ao crescimento, mas um ajuste para equilibrar o jogo. Quem tem muito, paga mais. Quem tem pouco, respira.
Mas há uma ressalva que não podemos ignorar: os cortes de gastos públicos. A austeridade sempre vem com a promessa de estabilidade, mas deixa um gosto amargo. Não precisamos de menos, precisamos de mais. Mais investimento, mais obras, mais empregos.
O caminho para o desenvolvimento não passa por apertar os cintos até faltar ar, mas por abrir espaço para que todos cresçam juntos.
No fim das contas, o recado de Haddad foi claro: o Brasil vai tentar um novo pacto social, onde a taxação pesa mais sobre quem pode e menos sobre quem já carrega o país nas costas.
O mercado pode até torcer o nariz, mas talvez seja hora de lembrar que equilíbrio não se alcança sem algum desconforto.
O que está em jogo não é só o humor de quem movimenta milhões, mas o futuro de um país inteiro. Que venha o detalhamento — e que venham também os investimentos.
Aí sim, teremos o apoio que importa: o do povo que faz o Brasil funciona.