Quinta, 05 de Dezembro de 2024
17°C 26°C
São Paulo, SP
Publicidade

Bolsonaro planejou, atuou e teve domínio de plano para golpe, diz Polícia Federal

Relatório final da investigação sobre trama golpista tem sigilo derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes

Por: Carlos Leen
26/11/2024 às 16h56 Atualizada em 26/11/2024 às 17h18
Bolsonaro planejou, atuou e teve domínio de plano para golpe, diz Polícia Federal
O ex-presidente Jair Bolsonaro, indiciado pela PF na investigação da trama golpista - Adriano Machado/Reuters

Por Cezar Feitosa, Folha de São Paulo

O ex-presidente Jair Bolsonaro liderou a trama golpista no final de 2022, e a ruptura democrática não foi concretizada por "circunstância alheias à sua vontade", disse a Polícia Federal no relatório final da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado.

"Os elementos de prova obtidos ao longo da investigação demonstram de forma inequívoca que o então presidente da República, JAIR MESSIAS BOLSONARO, planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa que objetivava a concretização de um Golpe de Estado e da Abolição do Estado Democrático de Direito, fato que não se consumou em razão de circunstâncias alheias à sua vontade", diz.

Bolsonaro, declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até 2030 por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, foi indiciado neste ano pela PF em três inquéritos: sobre as joias, a falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19 e, agora, a tentativa de golpe de Estado.

As informações sobre o papel de Bolsonaro na trama estão no relatório final da investigação da PF sobre tentativa de golpe de Estado em 2022. As conclusões da investigações foram entregues na quinta-feira (21) ao STF (Supremo Tribunal Federal) e tornadas públicas pelo ministro Alexandre de Moraes nesta terça-feira (26).

O relatório foi enviado para análise da PGR (Procuradoria-Geral da República). O órgão é o responsável por avaliar as provas e decidir se denuncia ou não os investigados.

Segundo a corporação, os 37 envolvidos cometeram três crimes: tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa, cujas penas somam de 12 a 28 anos de prisão, desconsiderando os agravantes.

O texto diz que o grupo investigado era "liderado por Jair Bolsonaro" e "criou, desenvolveu e disseminou" desde 2019 a narrativa falsa de vulnerabilidade das urnas eletrônicas para justificar intenções golpistas em caso de derrota do presidente na tentativa de reeleição.

Após a derrota na eleição de 2022, segundo a PF, Bolsonaro "elaborou um Decreto que previa uma ruptura institucional, impedindo a posse do governo legitimamente eleito".

A Polícia Federal ainda diz que há provas e elementos que indicam que Bolsonaro sabia dos planos do general da reserva Mario Fernandes para matar o presidente Lula (PT), o vice, Geraldo Alckmin (PSB), e Moraes.

"Enquanto as medidas para ‘neutralizar’ o ministro ALEXANDRE DE MORAES estavam em andamento, o núcleo jurídico do grupo investigado finalizou o decreto que formalizaria a ruptura institucional, mediante a decretação de Estado de Defesa no Tribunal Superior Eleitoral e a instituição da Comissão de Regularidade Eleitoral", diz a PF.

Bolsonaro negou na segunda-feira (25) que tivesse conhecimento sobre planos apurados pela PF para matar o presidente Lula (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e Alexandre de Moraes. "Esquece, jamais. Dentro das quatro linhas não tem pena de morte", afirmou.

O ex-presidente, porém, confirmou que discutiu com aliados e militares a possibilidade de decretar estado de sítio após a derrota na disputa eleitoral de 2022 —o que, para Bolsonaro, não configuraria golpe nem crime.

"Tem que estar envolvidas todas as Forças Armadas, senão não existe golpe. Ninguém vai dar golpe com general da reserva e mais meia dúzia de oficiais. É um absurdo o que estão falando", disse Bolsonaro.

"Da minha parte nunca houve discussão de golpe. Se alguém viesse pedir golpe para mim, ia falar, tá, tudo bem, e o 'after day'? E o dia seguinte, como é que fica? Como fica o mundo perante a nós. (...) A palavra golpe nunca esteve no meu dicionário."

A investigação da Polícia Federal mostrou que, no fim de 2022, o então presidente Bolsonaro, aliados e militares passaram a discutir minutas de decreto golpistas com o objetivo de anular o resultado das eleições presidenciais, sob a falsa alegação de fraudes nas urnas eletrônicas.

Os textos passaram por mudanças ao longo de novembro e dezembro, algumas feitas por ordem de Bolsonaro. Com o texto alinhado entre aliados, o então presidente convocou os chefes das Forças Armadas para sondar o apoio dos militares à proposta golpista.

Em depoimento à Polícia Federal, o então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, disse que o general Freire Gomes, à época comandante do Exército, chegou a dizer que prenderia Bolsonaro se ele avançasse com os intentos golpistas.

"Depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de alguns institutos previsto na Constituição (GLO ou estado de defesa ou estado de sítio), o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República", disse Baptista Júnior em depoimento.

O único chefe militar que apoiou os planos de Bolsonaro foi o comandante da Marinha, Almir Garnier Santos. Segundo a PF, ele colocou as tropas à disposição do ex-presidente para a consumação do golpe de Estado. O almirante ficou em silêncio diante da Polícia Federal.

Mesmo após a negativa dos chefes do Exército e da Aeronáutica, o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, fez novos apelos para os comandantes das Forças Armadas. O militar foi a peça principal do governo Bolsonaro no ataque às urnas eletrônicas.

A Polícia Federal descobriu na reta final do inquérito que o general da reserva Mario Fernandes, que trabalhava no Palácio do Planalto, elaborou um plano para matar Lula, Alckmin e Moraes. Ele conseguiu apoio de outros militares, que executaram parte do planejamento.

O documento com o passo a passo do plano golpista foi impresso por Mario no Palácio do Planalto com o título "Punhal Verde Amarelo". Ele previa a participação de seis pessoas, com celulares descartáveis e formatados, e o uso de armamento exclusivo do Exército para o assassinato das autoridades.

O plano ainda previa outras possibilidades de execução dos alvos, como o uso de artefatos explosivos e envenenamento em evento público.

As investigações apontaram uma estrutura por meio de divisão de tarefas, com a existência dos seguintes grupos:

  • Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral
  • Núcleo Responsável por Incitar Militares a Aderirem ao Golpe de Estado
  • Núcleo Jurídico
  • Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas
  • Núcleo de Inteligência Paralela
  • Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas

O lado golpista de Bolsonaro é conhecido de longa data.

Saudosista da ditadura militar (1964-1985), ele reiterou ao longo de anos sua tendência autoritária e seu desapreço pelo regime democrático. Negou a existência de ditadura no Brasil e se disse favorável a "um regime de exceção", afirmando que "através do voto você não vai mudar nada nesse país".

Na Presidência, deu a entender em 2021 que não poderia fazer tudo o que gostaria por causa dos pilares democráticos. "Alguns acham que eu posso fazer tudo. Se tudo tivesse que depender de mim, não seria este o regime que nós estaríamos vivendo. E apesar de tudo eu represento a democracia no Brasil."

Lula derrotou o então presidente Bolsonaro em 2022 após uma acirrada disputa de segundo turno. Durante seu mandato e após a derrota, o hoje inelegível Bolsonaro acumulou declarações golpistas.

Bolsonaro questionou a legitimidade das urnas, ameaçou não entregar a Presidência a Lula após a derrota eleitoral, atacou instituições como o STF e o TSE e estimulou a população a participar de atos golpistas.

 

 

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
A área destinada ao parque já foi doada pelos proprietários João Jacó e Cirlene, marcando um importante passo para a realização do projeto.
Geral Há 20 horas

Primeiro Parque Ambiental de Imperatriz Avança com Parceria entre Prefeitura e Governo do Estado

O primeiro Parque Ambiental de Imperatriz, localizado no bairro Santa Inês, deu um passo importante rumo à sua concretização. Em uma reunião estratégica, o prefeito eleito, Rildo Amaral, reuniu-se com o Secretário Chefe da Casa Civil do Maranhão, Sebastião Madeira, o presidente da AGEMSUL, Vagtonio Brandão e os proprietários da área doada, João Jacó e Cirlene.

Os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino, durante cerimônia de posse de Dino no STF - Pedro Ladeira - 22.fev.24/Folhapress
STF e Congresso Há 1 dia

Decisão sobre emendas que contrariou Congresso e governo tem apoio unânime no STF

Após suspensão de verbas, ministros seguem decisão de Dino, que fez críticas e colocou restrições

Com o novo plano, os trabalhadores terão ganhos remuneratórios reais e vão poder usufruir de um reajuste salarial que supera as perdas inflacionárias registradas nos últimos anos.
ALEMA Há 1 dia

Assembleia Legislativa aprova novo Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos dos servidores

Em um dia histórico, a Assembleia Legislativa do Maranhão (Alema) aprovou, na sessão desta terça-feira (3), o novo Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) dos servidores efetivos do Legislativo estadual, uma demanda antiga, atendida na gestão da presidente Iracema Vale (PSB).

Com a nomeação, espera-se um alinhamento entre as equipes e uma transição tranquila, com foco na manutenção da qualidade do atendimento à população. Foto: Perfil da rede social
Transição Há 3 dias

Rildo Amaral indica Alan Sousa para direção do Socorrão de Imperatriz

Diante da decisão judicial que determinou o afastamento da diretora do Hospital Municipal de Imperatriz (Socorrão), o prefeito eleito Rildo Amaral anunciou a indicação de Alan Sousa, ex-diretor da UPA Estadual, para assumir o comando da unidade.

(Foto: Divulgação)
Política Há 3 dias

Presidente Lula recebe Brandão em Brasília

Em uma publicação, o governador destacou a reunião e os investimentos realizados no estado, fruto da parceria com o governo federal.