A deputada estadual Mical Damasceno, PSD, propôs uma sessão na Assembleia Legislativa exclusivamente para homens, em celebração ao Dia da Família, agendada para 15 de maio. A justificativa ecoa uma narrativa sobre os papéis de gênero e a hierarquia familiar, segundo a qual a figura masculina é o "cabeça" da família. Mical disse que a sugestão foi “uma ideia divina”.
Essa intersecção entre política e religião não é nova, especialmente em um contexto brasileiro marcado por influências neopentecostais. Tais religiões se tornaram uma base significativa para certas correntes políticas neo-fascistas, utilizando-se muitas vezes de notícias falsas (fake news) para manipular e mobilizar fiéis em direção a determinadas agendas eleitorais.
A recente manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, foi um exemplo marcante, onde a própria ex – primeira dama, Michelle Bolsonaro destacou a importância de unir religião e política para alcançar a dominação desejada.
No entanto, a defesa de um Estado laico, separado de influências religiosas, é crucial para o progresso civilizacional e para evitar retrocessos. Historicamente, a separação entre Estado e religião é uma conquista recente, consolidada em momentos como a Revolução Francesa (1789), que rompeu com a tradição de que a religião era a base da autoridade política.
É importante reconhecer que o crescimento do protestantismo pentecostal, especialmente nas periferias, não pode ser simplificado como uma manipulação dos fiéis por líderes religiosos.
Na verdade, muitos encontram nessas comunidades não apenas um espaço de culto, mas de apoio psicológico e até material para enfrentar as dificuldades cotidianas. São trabalhadores que lidam com transporte precário, filas do SUS, precariedade na educação pública, e que veem na religião não apenas redenção espiritual, mas também uma rede de suporte.
Marcelo Crivella, ex-prefeito do Rio de Janeiro, ilustra como a mistura entre política e religião pode ser problemática, especialmente quando há interesses pessoais e corrupção envolvidos. Suas promessas de se eleger e eleger um presidente da república em prol das igrejas acabaram manchadas por acusações de corrupção na chamada "operação do QG da Propina".
O desafio para a política contemporânea é compreender e dialogar com essas realidades complexas, sem subestimar ou estigmatizar os fiéis.
É necessário reconhecer a importância da religião na vida de muitos brasileiros, ao mesmo tempo em que se defende a autonomia do Estado e a igualdade de direitos para todos, independentemente de crenças religiosas.
Somente assim poderemos avançar verdadeiramente como sociedade, respeitando a diversidade e garantindo o progresso de todos os cidadãos.
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