Uma questão fundamental sobre os limites do poder das Forças Armadas emergiu no Supremo Tribunal Federal (STF). Numa decisão histórica, seis ministros do tribunal rejeitaram a interpretação de que as Forças Armadas possam exercer um suposto "poder moderador" sobre as instituições democráticas do país.
A ação em questão, proposta pelo PDT em 2020, teve como objetivo impedir que o artigo 142 da Constituição fosse utilizado como justificativa para qualquer intervenção militar nos assuntos civis.
Essa interpretação, notoriamente defendida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, gerou temores sobre a possibilidade de medidas golpistas durante seu mandato.
Prevaleceu no julgamento o entendimento de que o poder das Forças Armadas é estritamente limitado e não inclui qualquer autorização para intervenção nos Poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário. O ministro Luiz Fux, em seu voto, destacou que a função militar é subordinada aos poderes civis, como estabelecido na própria Constituição.
“Lembro que não existe, no nosso regime constitucional, um poder militar. O poder é apenas civil, constituído por três ramos ungidos pela soberania popular, direta ou indiretamente. A tais poderes constitucionais, a função militar é subalterna, como aliás consta do artigo 142 da Carta Magna", afirmou Flávio Dino.
A decisão unânime dos ministros Luiz Roberto Barroso, André Mendonça, Edson Fachin, Flávio Dino e Gilmar Mendes, juntamente com o voto de Luiz Fux, reflete um claro posicionamento em defesa da ordem democrática e da separação de poderes.
O ministro Flávio Dino ressaltou que, no regime constitucional brasileiro, não há espaço para um "poder militar" autônomo, reafirmando a supremacia dos poderes civis eleitos pelo povo.
Essa decisão do STF não apenas reafirma os princípios democráticos fundamentais, mas também serve como um marco contra eventuais tentativas de subverter a ordem constitucional. Ao rejeitar a interpretação do "poder moderador", o tribunal fortalece os alicerces da democracia brasileira e reafirma seu compromisso com a defesa das instituições republicanas.
Neste contexto político conturbado, em que vozes autoritárias tentam minar os pilares da democracia, a decisão do STF assume um papel crucial na preservação da estabilidade institucional e na proteção dos direitos democráticos dos cidadãos.
A sociedade brasileira deve permanecer vigilante e comprometida com a defesa dos valores democráticos, garantindo que nenhum poder, seja ele militar ou civil, possa se sobrepor à vontade popular e aos preceitos constitucionais.
O julgamento é realizado no plenário virtual, modalidade na qual os ministros inserem os votos no sistema eletrônico da Corte e não há deliberação presencial. A votação será finalizada no dia 8 de abril.
Mín. 17° Máx. 22°